São Paulo deve ter sido a capital das charretes de cafeicultores, que andavam com seus chapelões e suas espivetadas esposas brancas vestidas em cascas. Provavelmente já foi uma cidade onde sedutoras mulatas de poucos panos conseguiam atravessar a rua sem pressa. Um lugar onde pandeiros e violas ecoavam nas recém criadas esquinas da Zona Leste. A cidade devia ter mato, um mato verde, ainda não tingido pelo monóxido dos veículos. Pequenas tribos de índios deviam existir onde hoje brotam bairros da zona Sul. Uma chacará de colonizadores no Anhangabaú, uns carcamanos pobres em casinhas na Mooca, japoneses magros na Liberdade, árabes atarefados no centro. Um ou outro índio sem identidade devia circular livremente pela densa mata atlântica, sem ruas, sem pistas, sem sinais, sem prédios, sem barulho. Tudo germinando junto, calmamente, num caldeirão gigante prestes a entrear em ebulição.
Pensava nisso sentado em um banco na varanda da Casa das Rosas, talvez o último suspiro de poesia arquitetônica do passado. Ao redor, prédios, galerias, avenidas, metrôs. Tudo crescendo rápido, sem tempo para uma olhada, um vislumbre, marchando sobre a história, buscando um futuro sem futuro.
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