Feeds:
Posts
Comentários

Archive for 26 de maio de 2010

A publicidade se apossou de tudo. Vivaldi, por exemplo, morreu sem receber um centavo pelos milhões de sabonetes que sua opera vendeu. Gorbachev derrubou a União Soviética e hoje aparece em anúncio de marca de grife da américa capitalista. John Lenon, morto, faz figuração em propaganda de carro e Cheguevara continua vendendo mais camisetas que a C&A, Riachuelo e todas lojas de departamentos juntas. Isso fora quando não usam Jesus Cristo ou Buda.

Eles compraram o futebol no atacado. Estamparam o rabo do juiz com logotipos e deram um troco pro Ronaldinho levantar o dedinho na hora do gol: “é a número um, brasil-sil-sil”. Eles se apoderaram da espontaneidade dos nossos comportamentos. “Deixe sua energia mudar o mundo”, diz a propaganda de refrigerante. Aí eles colocam um vídeo de um sujeito fazendo um ritmo com a latinha no metrô e todo mundo sendo “contaminado” pela energia. Coisa que até poderia acontecer na vida real, mas essa “energia”, esse momento mágico, essa confluência divina, não passaria de mais um reforço publicitário. Mudar o mundo. Que grande bobagem. A publicidade se apoderou até dos nossos antigos anseios juvenis, aquele ímpeto setentista hippie de “mudar o mundo”. Quem hoje em dia quer mudar o mundo quando uma porcaria de refrigerante diz pra você fazer isso? Eles nos roubaram a espontaneidade e querem nos vender de volta…

Se o pessoal do hip-hop tá reclamando demais, incitando a desordem. Vamos fazer vídeo-clipes milionários, dar carros potentes, mulheres gostosas, cordões de ouro, assim a gente mantem mais gente nessa rodinha de hamster. Tá vendo, se os negões podem, você também pode. É só se dedicar, acreditar, comprar, consumir. E assim a piramide continua e as vendas de uísque importado aumentam.

A nova mania na aurora do fim do mundo é se apoderar dos nossos mais ancestrais medos apocalípticos. Um senhor com cara de sábio anuncia no vídeo: “um dia estranho, o mais estranho dos dias estranhos” e aí ele conta que o sol não apareceu, que todos tiveram que enfrentar o desconhecido e que não foi nada fácil. Enquanto isso, cenas da caminhonete pra cima e pra baixo, trabalhando. No final o narrador diz: “Nova Ford Ranger, pra enfrentar o que você conhece e o que ainda não conhece”.

Outra propaganda mostra um ator de filme de ação dirigindo por ruas vazias. Uma música clássica, uma loira gostosa do lado, bancos de couro, ar-condicionado, tudo funciona maravilhosamente bem até ele parar, abrir a porta e sair do carro. Lá fora é pura bagunça, gente brigando, acidente, sirene, poluição. O valente Jack Bouer então volta rapidamente pro carro, olha pra loira e diz: “It´s fine”. A música volta e o narrador diz: Novo Citroen C4 Pallas, com ele tudo fica diferente…Sim, a publicidade consegue nos vender até mesmo nosso próprio egoísmo.

Read Full Post »