Ray Winkler é um ladrão fracassado que resolve realizar um assalto não muito convencional. Ele aluga um galpão ao lado de um banco para cavar um túnel até os cofres. Para não levantar suspeitas ele coloca a esposa Frenchy para vender biscoitos enquanto ele e seus comparsas trabalham na parte dos fundos. No final a escavação termina fracassada e a venda de biscoitos, um sucesso.
Essa história pode ser vista no filme “Os Trapaceiros” (Small Time Crooks – 2000) do cineasta Wood Allen. Na segunda parte da trama, depois que o casal alcança enorme status social, a esposa de Winkler, Frenchy (interpretada por Tracey Ullman), mostra-se um verdadeiro desastre quando tenta ser refinada e culta. Ela decide então pedir conselhos para um playboy interesseiro chamado David. No final David dá um golpe e rouba toda fortuna do casal.
É engraçado, mas eu não conseguia parar de pensar nessa história quando William Boner anunciou hoje na escalada do Jornal Nacional que o Brasil, pela primeira vez na história deste país, tinha dinheiro de sobra para pagar a dívida externa.
À parte alguns lunáticos que teimam em dizer o contrário, o Brasil nunca esteve numa agitação econômica tão grande. É possível ver essa pujança em uma simples caminhada pela Avenida Paulista. Nunca na história recente (leia-se, período em que passei a acompanhar o noticiário)existiram tantos comércios, se ganhou tão bem e se empregou tanto. Nunca esse meu país, outrora tão pobre, foi tão rico!
No entanto esse mar de dinheiro não reflete nem um pouco no caráter da população. Os investimentos em educação continuam baixos, os brasileiros mais pobres ainda não vão à escola e as Universidades Públicas permanecem como refúgio das elites. Enquanto a grana rola solta o brasileiro médio continua mesquinho, arrogante, preconceituoso, malandro. É como se Ray Winkler do filme “Os Trapaceiros” enriquecesse subitamente. Temos dinheiro, mas não temos requinte. Somos exatamente como o personagem de Allen: malandros irresistíveis.
Enquanto nossa posição no quadro mundial não pára de crescer, nossa sala de estar continua má decorada, brega e totalmente kitsch. Será que não está na hora de nos tornarmos culto o bastante para não pedirmos conselhos a um charlatão?
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