Pelo o que eu via na TV tinha certeza que esse negócio de ser podre de rico deveria ficar fora de moda muito em breve. O dinheiro parece que consome a vida desse pessoal. Gastam com um monte de bobagem, compram carros, casas, ilhas, mulheres, viagra. Na minha opinião, a única coisa que poderia ser bem aproveitada com a extrema riqueza seria o ócio, aquele ócio sem culpa e sem medo. Mas quem preza o ócio hoje em dia? Rico que é rico quer é cair de cabeça na droga do momento, o tal frenesi consumista.
Eu não ficaria chatedo de ser podre de rico. Ficaria o resto da vida à toa, numa casinha perdida lá no Ceará. De manhã tomaria um café com pão, leria o jornal, daria um mergulho no mar. Na volta prepararia o almoço, uma partida de xadrez, chimarrão, um violão e pôr do sol. Um livro do Jorge Amado , banho, alongamento, sexo e cama. Esse deveria ser o dia-a-dia de um podre de rico. No fim de semana uma saidinha, bar, amigos, parentes, vizinhos, festa, churrasco, sempre, é claro, pagando a conta de todo mundo. Mas ao contrário, os caras querem sempre dar um jeito de ganhar mais, indo em reuniões, falando com acionistas, viajando à noite. É então que eles compram Ferraris, ilhas, mansões para “compensar”; mas precisam marcar nas agendas o horário certo para usufruir. Isso quando não são messias delirantes que apregoam a própria importância para o desenvolvimento da humanidade, quando que, na verdade, estão muito mais preocupados em como irão aparecer na foto da Revista Forbes. Aliás, essas listas da mídia são um grande delírio da pós-póstuma-modernidade, muito provavelmente fruto de uma geração de cabeças educadas por fliperamas que piscam, brilham e apitam pro nerd que faz mais pontos.
Certa vez, numa mesa de bar na augusta, uma jornalista formada no Mackenzie e que trabalhava num site de produção cultural, dessas que são amiga de uma amiga de um amigo, disse que era um absurdo esse negócio de que o fato de uns terem mais, significava menos para o resto. Ela era do tipo que acreditava que com trabalho e dedicação todos poderiam ter, sim, uma fração. Ela era rica; usava uns óculos de armação grossas todo preto e já devia ter pra lá dos 25. Provavelmente o que ganhava no tal site de “produção cultural” não pagava as meias. Não fazia muita questão de esconder esse fato tampouco. Até contou que seu pai tinha lhe dado uma grana pra comprar um apartamento, mas, como fez questão de dizer, preferiu guardar e investir em algum “fundo estrangeiro”. “Sabe como é né, nunca se sabe o futuro”, disse antes de ajeitar os óclinhos.
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