Não existem muitos pontos de vistas temporais diferentes na cidade de São Paulo. As pessoas passam o dia correndo em direção a metrôs, ônibus, marginais e, imersas em seus afazeres, mal veem a hora passar. Ok, existem inúmeras profissões e rotinas diferentes, mas são poucos com uma visão alternativa de tempo, no geral está todo mundo no mesmo ritmo. O som da cidade é o do trabalho. Acordava todo dia às 10 da manhã, com o canto do tráfego da rua vergueiro; buzinas de percursão e britadeiras de backing vocal; ahh lindas manhãs esfumaçadas da paulicéia. A trilha sonora frenética da locomotiva que não pode parar dava seu show cedo, lá pelas seis da manhã.
A capital paulista não é exatamente a melhor cidade para se tirar um ano sabático. Não só pelo fato de todos estarem a fazer tudo o tempo todo, mas também porque não existirem muitas áreas de respiro. Tinha sonhos delirantes de poder acordar em Ipanema, no Rio de Janeiro, ou quem sabe na Bahia, tomar um banho de mar, sentar na areia, pensar na vida, exatamente como os grandes poetas e escritores fazem. Mas não. Toda manhã levantava com a impressão que o mundo estava a milhão e eu perdia alguma coisa importante. Sempre há algo para ver em São Paulo, sempre há notícia, acontecimento, turbulência.
Para espairecer dava algumas voltas na pequena pista do parque da Aclimação, exatamente como um ramister enjaulado. Comprava o jornal, fazia um café e cozinhava alguma coisa. Lia alguns livros, escrevia algumas coisas, mas a impressão de estar em outro tempo e dimensão, de ser um “vagabundo” não me deixava extrair o melhor do que aquela experiência de ócio poderia me proporcionar.
A impressão que dá é que São Paulo está sempre sendo construída, com canteiros de obras espalhados, lojas que inauguram e fecham na semana seguinte e operários que mal fazem uma pausa para um cigarro. Uma capital em construção! Crescendo, cada vez mais.
Pra onde é que ninguém sabe…
Deixe um comentário