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Archive for abril \29\-03:00 2008

DERRAME

É mais um típico final de sexta-feira, com pesadas nuvens negras pairando no ar; acúmulo de uma semana de pulsação intensa. Pequenas células vivas do grande câncer percorrem as vias entupidas, liberando seus gases, seja através de motores velhos ou intestinos podres. A grande marcha preta não pára, nunca! A temperatura sobe. É a febre, é a febre!

Adentro a grossa crosta epidérmica, um furúnculo me leva até um coágulo de células, todas espremidas tentando viajar nas veias subterrâneas. Quando as portas se abrem, o derrame!

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Às vezes gostaria de ser chinês. Tudo bem que eles são meio estranhos, cospem no chão, arrotam na mesa e peidam em público. Mas sei lá, acho que no momento eles devem ter notícias mais legais pra ver na televisão. Imagina ter a disposição um censor 24 horas escolhendo a programação que fosse te agradar, sem violência, sem crimes, sem crises, sem nada de ruim. Porra! A gente paga tanto imposto, acho que deveríamos ter um serviço parecido.A moda agora é ser chinês! E é por isso que eu digo que esse negócio de supervalorizar a liberdade de imprensa é de uma mentalidade ocidental meio que ultrapassada. Olha só no que deu. BBC, CNN, Fox News, Rede Globo, caso Isabela, cartões corporativos. Democratizar a informação equivale a abrir a tal caixinha de pandora. São monstros, doenças, tragédias, desastres, tudo voando ao redor da terra em ondas difusoras.

O foda é que agora fica difícil fechar a caixinha. A liberdade é qualquer coisa que vicia e não se controla.

Mas quem estudar o mito de Pandora sabe que a única coisa que resta, ali, bem no fundinho, é a tal esperança… Pois é, a tal esperança! Uma velha conhecida nossa. Brasileiro adora a tal esperança. Ainda mais em época de Copa do Mundo e Olimpíadas.

Acho que por isso que essas Olimpíadas prometem. A pandorinha deles fechadinha e a nossa arregaçada. A esperança deles guardadinha, a nossa a flor da pele. Sei não, vai ter qualquer coisa de histórico na China este ano. E por isso digo: que venha Pequim! esperança eu tenho, mas bem que gostaria de ser um chinês agora pra não ter que presenciar tudo.

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FILOSOFANDO

Os textos desse post escrevi em uma quitinete minúscula no interior de Mato Grosso. Não tinha TV lá, minha única diversão era olhar as formigas que subiam pelos degraus do minha desprovida alcova. Não lembro a data exatamente, mas foi na metade do ano passado (2007). São textos com cheiro de pé de manga.

Formigueiro

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Essa busca incessante pela verdade ainda vai nos matar. O ser humano deveria se acalmar, saber perder, entender que nunca vai saber a verdade. Estamos já há milênios procurando algo que nos dê sentido. Civilizações inteiras já nasceram morreram, e nada. A ciência é tão incompleta quanto a religião, não existem respostas em lugar nenhum. Tentamos desvendar o código, mas nunca saberemos quem é o programador. Talvez tenha chegado a hora de nos prostrarmos, desistirmos, jogar a toalha. Não tem jeito! Tentar entender o que se passa é a mesma coisa que uma formiga querer descobrir o sentido do jardim em que vive. No máximo pode chegar até a fronteira, mas nunca vai descobrir quem a delimitou, nunca vai entender a vida fora dali. Ela não tem cérebro para isso assim como nós não temos cérebro para saber quem fez as estrelas. Temos um limite, e chegamos nele, paramos nas bordas do jardim e queremos avançar. Quem sabe chegamos bem pertinho de descobrir algo. Somos um formigueiro audacioso, isolado num jardim gigante, sem vizinhos, e, talvez se encontrarmos alguém, eles sejam somente outro formigueiro sem respostas, tão amedrontados quanto nós. Confesso que desisti de tentar entender, olho a noite para o céu e não compreendo nada. É como estar num aquário. Preso numa colônia de formigas errantes, suicidas, que destroem o próprio habitat. O que somos afinal? Quero respostas, quero a verdade! Como podemos viver assim? Quero quebrar o vidro e sair do aquário, já!…

… mas, sei lá. Para alguns, eu sou só uma formiga improdutiva, que não gosta de carregar folhas.

 

Jornalistas

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Seriam os filósofos jornalistas da vida? Se forem quero mudar de profissão, não gosto de ser jornalista de humanos, prefiro investigar mistérios existenciais. Cansei de CPIs, escândalos, corrupção, assassinatos, prefiro dossiês secretos sobre a vida na terra, algo que revele a grande verdade, o furo dos furos! No entanto, não se fazem mais filósofos hoje em dia, assim como não se fazem mais jornalistas como antigamente. Acho que porque vivemos na ditadura do capital, afinal, qual o valor de um filósofo? É por isso que vou tentar ser um filósofo free-lancer, investigar a vida a fundo, entender seu significado e assinar a matéria sozinho. Já tenho algumas pistas, alguns informantes e fontes fidedignas, só falta a grande conclusão, o degrau final. Ser filósofo em época de ditadura não é fácil, algo te imobiliza e o impossibilita de ir adiante no grande escândalo da vida, não sabemos quem está por trás de tudo isso, mas quem quer que seja deve estar muito bem assessorado. O pior é que está ai, na cara do povo e ninguém vê. Todos preferem fingir que não precisam saber da verdade. Como pode? Todos trabalhando, guerreando, transando, vivendo, festando, comendo, cagando, nascendo, morrendo, um eterno ciclo que não acaba, sempre igual. Quero montar uma empresa de filósofos, fazer uma seleção de homens extraordinários que vão ficar sem trabalhar só pensando na vida. Teremos laboratórios, sala de pesquisa, computadores, fogão a lenha, cadeiras de balanço, cachimbos e maconha de monte. O único objetivo da companhia seria desvendar o grande mistério existencial. Os funcionários ficariam diariamente sentados conversando sobre grandes teorias da existência, mas nada de filosofar sobre coisas pequenas, não!… não senhor! nada de peixe pequeno, vamos atrás do cabeça desse esquema todo, o grande José Dirceu do universo. O problema é que logo a polícia chegaria e acabaria com a operação. Provavelmente fechariam tudo e nos expulsariam com boletos de alugueis vencidos e impostos atrasados. É por isso que eu vou ser free-lancer! talvez demore mais, porém em época de regimes totalitários é melhor agir sozinho… sabe como é, como diziam os antigos comunas: passarinho que come pedra sabe o cu que tem. Vou investigar, cheirar cada planta, experimentar cada droga, rezar cada religião, comer cada prato, tomar cada chá, abraçar cada árvore, respirar cada ar e nadar cada mar. A pesquisa é longa, falta muito ainda para terminar, mas posso dizer que após um período de andanças já tenho algumas provas. Claro que ainda não faço idéia de quem sejam os grandes líderes do esquema, mas pelo menos já sei o que querem. Acredite se quiser, os pilantras querem uma piada! Isso, uma piada! Querem terminar esse curto livreto chamado “vida no planeta terra” com uma ironia besta, um deboche mal feito, um escárnio celestial. O motejo, ao que tudo indica, deve ser para outro grupo que participa dos mesmos interesses, outra facção de inteligência superior que deverá receptar a mofa com uma tediosa gargalhada, tudo isso, é claro, antes de fechar para sempre a enfadonha obra sobre a humanidade. Uma fábula ridícula sobre como a única espécie inteligente de um pequeno planeta azul bastou para se auto-destruir…

…francamente, um fracasso de público e crítica.

O livro

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“Os racionais” é o segundo livro de Deus e promete bater recordes de venda e fazer uma crítica ao sistema em que vivemos. Muito celebrado com sua primeira obra “O silêncio das raças”, Deus já é reconhecido por seu estilo detalhista e talento excepcional para criar mundos fictícios totalmente verossímeis. Na sua segunda obra, ele retoma a temática de um planeta habitado por seres mudos, incapazes de se comunicar. Dessa vez, porém, uma nova raça é introduzida para fazer contra-ponto às criaturas mudas: os humanos, raça descrita como seres de carnes e ossos que andam sobre duas patas e crêem ter capacidade de raciocinar.

A história conta toda trajetória humana sobre a TERRA – local onde vivem as estranhas criaturas. O autor cria civilizações, impérios, guerras e faz um relato minucioso de como os humanos desevoluiram com o passar do tempo; passando de seres coletivos, para seres individualistas. A história ainda relata a busca pelo conhecimento e a solidão que a raça humana vive durante toda sua existência. A tensão aumenta quando descobrimos que os humanos são incapazes de se comunicar com todas as outras criaturas que habitam a Terra. Sem poder usufruir da dialética global, eles logo se proclamam seres racionais e dominantes da Terra. Após criarem formas de organização social, passam a atribuir valor ao dinheiro – forma utilizada por eles para adquirir e consumir partes importantes dos recursos deles mesmos. Os humanos passam a ignorar a coletividade e são jogados numa imensa bola de neve que termina por consumir a Terra por completo. Os outros animais, por serem incapazes de se comunicar, não emitem opinião sobre os atos desastrados do espécime reinante, nem tampouco são chamadas para participar do sistema monetário criado pela raça “dominante”. O resultado é que morrem um após outro entrando em extinção.

Junto a tudo isso está a incerteza sobre a existência (no livro os humanos são descritos como “seres ignorantes que vagam sem sentido”, e tentam buscar respostas através de entidades sobrenaturais, o que resulta em mais guerras e desentendimento). Para piorar o cenários e deixar a história mais tensa, o desenvolvimento da fala foi diferente nas mais diversas regiões, portanto, além de serem os únicos seres capazes de se comunicar, os humanos falam línguas diferentes.

Na analise da crítica literária, Deus, autor conhecido por sua ironia feroz, pretende fazer um paralelo com a solidão de certos setores da nossa sociedade, que insistem em ignorar a verdade absoluta e tentam viver de forma errante e estúpida, buscando respostas em coisas irreais. Talvez sua intenção seja mostrar o quão abomináveis eram esses seres estúpidos, que tentavam desesperadamente entender o sentido da vida, mas esbarravam no fato de que toda e qualquer opinião sempre vinha deles mesmos.

Eram um povo essencialmente bom, mas que devido ao isolamento e total falta de respostas, acabaram se apegando a coisas erradas. Deus mostra que não há motivos para egoísmos humanísticos em nossa sociedade, uma vez que sabemos a verdade, mas que acaso continuemos a agir assim, podemos ter o mesmo fim trágico da  odiosa e fascinante raça humana.

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O comediante é um mensageiro do além, sua piada é um sinal de que em algum lugar devem estar rindo da gente.

Evolução

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Pulo de árvore em árvore. De longe observo esse estranho ser, vestindo roupas de caça, carregando espingardas potentes. Pobre criatura, quando será que vai evoluir…como pode demorar tanto? Há milênios que tento alertá-lo quanto a lei da evolução, já tentei até mesmo me infiltrar para despertá-lo de alguma forma; uma estupidez, já que na maioria das vezes me veste com roupas de bebe, me dá banana e morre de rir quando o imito. Já está ficando feio para mim. O resto do pessoal já tá reclamando, dizem que assim não dá, assim não pode, ou resolvo logo ou vão começar a agir. Mas parece que tá cada vez pior, esse sujeito é um esquizofrênico crônico, não entende a realidade, se bate e se mata, se afunda na própria ignorância. Não sei o que fazer, é um hospede incômodo, mas não posso expulsá-lo. O pior é que quanto mais tento educá-lo mais estúpido ele fica. De todos ele parece ser o que mais regride, vive cheio de contradições não se entende, não está bem consigo mesmo, é um psicopata. O que posso fazer? Opa, ele está passando, talvez se eu jogar alguma coisa, descer pra tentar um contato… hum, acho melhor ficar aqui em cima. Ih, ele me viu, droga, está apontando aquela arma idiota na minha direção. Atirou. Mas que porra, esse sujeito não aprende nunca! Lá se foi mais um corpo, provavelmente o lunático vai exibir na sua sala de estar, que coisa louca, quando vai aprender que no fundo só está mostrando um pedaço de si mesmo…

… quando é que esses primatas vão evoluir?   

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Ser humano: um porteiro que coloca fogo no prédio que devia tomar conta. Não quero nem imaginar a hora que o sindico chegar.

Destruição
Agora pouco um grupo de formigas tentou invadir meu quarto. Vieram aos montes, subiram o pequeno degrau da porta e adentraram pelo canto. Era um grupinho considerável, que marchava lenta e valentemente para frente. Não existia ordem, não consegui identificar o general, o comandante, nem qualquer sinal de hierarquia no grupo. Só sei que continuavam sem medo, caminhavam juntas, imponentes, persistentes. Passaram pelo primeiro risco de azulejo, bem ao lado da parede e, em fila, penetraram o recinto. Observei um bom tempo, estava admirado com a audácia dos artrópodes. Possuíam uma rara coragem e atrevimento, eram como bandeirantes abrindo espaço no meu quarto. Depois de um tempo peguei o chinelo e acabei com a grandiosa marcha. As pobres formigas morreram sem nem imaginar o que as matou, simplesmente desapareceram. Sentei-me na cadeira e tomei um chimarrão. Formigas… mas que seres mais insignificantes.

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Aos poucos os humanos começaram a se dar conta do universo. O fizeram aos poucos, primeiro a roda, depois a penicilina depois os foguetes. Eram um grupinho considerável, que desvendavam cada vez mais os caminhos secretos. Não existia ordem, não pensavam juntos, eram egoístas nem demonstravam qualquer sinal de coletividade. Só sei que algo os puxava, avançavam imponentes, persistentes. Passaram pela primeira revolução industrial, depois a digital, criaram avidez pelo metal, invadiam meu espaço buscando mais. Fiquei a observar um bom tempo, estava admirado com a audácia dos humanos, possuíam uma rara ignorância e atrevimento, eram como fungos devorando meu planetas. Depois de um tempo peguei um pequeno meteoro e acabei com a festa terráquea. Pobres humanos, morreram sem nem saber o que os matou, simplesmente desapareceram. Sentei-me em uma estrela e criei outro planeta azul. Humanos… mas que coisinhas mais ridiculas, vou habitar esse próximo com seres mais racionais; talvez formigas.

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