Um dos grandes problemas dos brasileiros é não ter um herói de verdade. Falta aquela imagem para nos espelharmos, poder apontar e dizer: “pó, quero ser igual esse cara”. Tudo bem que já tentamos algumas vezes. O tal do Tiradentes, por exemplo. É certo que foi um herói dos mais fakes, com aquela pose, vestimenta simples e barbona. Mas beleza, já é alguma coisa. O problema é que ele ficou velho demais; o brasileiro já tem memória curta, pra se lembrar dos feitos do barbudinho há mais de cem anos, ah parceiro, ai fica difícil.
Desafio alguém a fazer uma listinha com alguns nomes de brasileiros que deram a vida por uma causa. Uma listinha pequena, três pessoas. Três brasileiros que podemos chamar de heróis da nação. Vale lembrar que Ayrton Senna, Pelé e Ronaldinho não valem. Eles tiveram suas recompensas na Terra, comeram Galisteu, Xuxa, Cicarelli, nadaram na grana e, além de serem bons no que faziam, nada mais fizeram (no máximo uma ong ou outra pra abaterem impostos). Quero alguém que tenha mudado os rumos da humanidade, alguém que tenha feito a diferença, inventado algo grande, proposto uma nova idéia, sacudido os pilares da sociedade. O que? Santos Dumont? Humm, vá lá, pode ser. Uma pena que nosso inventor do avião ainda sofra com o benefício da dúvida devido aos irmãos Wrights.
Mas os heróis são mais que meros inventores de avião. Os heróis são feitos para marcar o território moral de um povo, servem para levantar a nação, inspirar grandes feitos. Vejamos a França, por exemplo. Eles vão de Napoleão a Sartre passando por uma verdadeira liga da justiça à época da revolução francesa. Imagina como ficam os brios de um francês que nasce cercado por estátuas e histórias de conterrâneos que mudaram o mundo. Não é a toa que eles são metidos a beça: “Aller France, aller!”
Outros que são bem metidos são os argentinos. A gente costuma fazer piada sobre o topete dos hermanos, principalmente quando o assunto é futebol. Quem não conhece a famosa: “Maradona es el mejor del mundo e um de los mejores de Argentina”. Mas mesmo eles possuem heróis muito mais significativos que os nossos. Maradona, por exemplo, que costumamos categorizar como cheirador portenho metido a besta, é amado muito mais lá do que o Pelé jamais poderia ser no Brasil. Não cabe aqui discutir a velha pendenga de quem é melhor ou pior, o fato é que Maradona é herói e Pele não; ou você já viu alguém com uma camisa do seu Edson estampada por ai?
Fora isso, os argentinos podem se orgulhar do rosto mais estampado nas camisetas da América do Sul. Seu Ernesto Guevara, o famoso Che, o herói dos heróis, que era, para nosso desespero, argentino.
É engraçado, mas ser herói não é apenas ser bom em alguma coisa. Tem que ter aquela pecha de heróis. Não basta querer, tem que poder, entende? Um filme que retrata bem essa questão é “Circulo de Fogo”. Dizem que os feitos de Vassili, o soldado retratado no filme por Jude Law, inspirou os soldados e ajudou os soviéticos a derrotar os nazistas. Se é verdade ou não, não interessa. O fato é que se eu fosse russo poderia me orgulhar por alguns momentos durante uma breve aula de história: “Que demais esse Vassili”, sairia comentando com meus colegas, pronto para dar a vida pelo meu país caso fosse necessário.
É por essas e outras que a construção de heróis deveria fazer parte do planejamento nacional de qualquer país. Deveria existir algum ministério para identificar e perpetuar feitos nobres. Algo como: “Ministério dos Feitos Heróicos Nacionais”. Tudo bem que a pasta seria disputada por sujeitos sem a menor postura ética ou heróica, tudo bem que lobistas iriam nomear anti-heróis como heróis, tudo bem que no fundo o Ministério seria mais usado como cabide de empregos, tudo bem que as verbas… é, bom, pensando bem é melhor esquece essa história de Ministério. Mas o fato é que deveríamos aprender com os americanos. Eles são mestres em construir heróis que não existem. Superman, Homem Aranha, Rambo, Capitão América, todos são criações que fazem qualquer americano gordo flácido com colesterol alto se sentir o fodão na frente da TV. “yeh man America rocks! Fuck the rest”. A gente precisa disso, de um índio que voa, de um lampião com raio lasers, de um baiano mutante que corre na velocidade da luz, sei lá, qualquer coisa.
É por isso que eu acredito que deveríamos começar a investir na criação de heróis o mais rápido possível. Tenho certeza que algum populista vai aproveitar para dizer que herói é o povo, que trabalha e blábláblá, mas eu to falando de herói de verdade, daqueles que morrer por uma causa ou que soltam laser pelos olhos. Afinal, o Zé da esquina pode ser um verdadeiro herói. Pode acordar cedo, sustentar 15 filhos, ser honesto, trabalhador, mas meu amigo! Isso não adianta nada. Um bom herói precisa de uma boa assessoria de imprensa.
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