Feeds:
Posts
Comentários

Archive for the ‘Opinião’ Category

Tem uma frase do presidente Lula que não sai da minha cabeça. Logo no começo dessa crise, durante a inauguração de uma plataforma de petróleo da Petrobras, ele disse que: “bancos importantes que passaram a vida dando palpite sobre o Brasil, dizendo o que gente deveria fazer, medindo o risco deste país, estão quebrando“.

É uma frase emblemática, ainda mais se pensarmos que esses tais palpiteiros são a síntese de toda imposição do pensamento americano, ao melhor estilo: eu dito, você escreve. E não é só na economia. É em toda área. Dar jeitinho é errado, cobrir o rosto por causa da religião é errado, distribuir a renda é errado, intervenção econômica do Estado é errado, não ser ambicioso é errado, não amar a democracia sobre todas as coisas é errado.

A frase do presidente Lula joga luz na rachadura do principal sustentáculo de toda cultura americana: a economia! E então a dúvida surge: e se eles estiverem errados? E se o neoliberalismo não estiver certo? Será que tudo o que fomos levados a acreditar durante todos esses anos também está errado? Será que todo pensamento Ocidental que foi sendo construído durante séculos, vai simplesmente terminar por causa de créditos podres?

Caso a economia realmente entre em colapso, o mundo pode passar por períodos difíceis, e é ai que a crise de confiança vai realmente começar. Toda filosofia do mundo ocidental vai entrar em xeque, e, de repente, tudo passará a ser questionado. As mulheres que abandonaram o véu no Oriente Médio vão ter que vestir de novo, países livres que escolhem seus presidentes através do voto terão que voltar a conviver com ditadores, a imprensa não será mais livre, não existirá mais transparência, tudo será obscuro. Afinal, os palpiteiros estão quebrando.

Uma crise de confiança pode ser muito mais grave do que parece…

 

Read Full Post »

E tem essa crise que não passa e ninguém entende. Hoje, por exemplo, a bolsa caiu. Mesmo com a aprovação lá dos tantos bilhões de dólares do pacote Bush. No Jornal Nacional ninguém sabia explicar o que aconteceu, o pregão até abriu bem, mas depois da notícia da aprovação, despencou. A repórter disse que alguns economistas tentam entender, mas esse “tentam” já desqualifica tudo. Se um economista “tenta” entender, o que diremos nós?

Já escrevi nesse espaço minha opinião sobre economistas. Não dá pra levar a sério um sujeito com diploma pra exercer função de Mãe Diná. É sempre o tal do “horizonte nebuloso de energias negativas na sétima casa da Nasdaq com influência direta sobre a lua da Bovespa. Toma um banho de sal grosso e deixa o dinheiro aplicado”.

É por isso que essa crise, para mim, reles leigo do cotidiano, parece bastante com aquele tal acelerador de partículas. São duas coisas que vão influenciar diretamente a humanidade, mas que ninguém sabe explicar exatamente o que é. Tipo, ok, vamos acelerar as partículas do átomo, mas o que diabos é essa porra de partícula? Alguém já viu uma, já tirou foto, já tocou? Tudo bem, a queda na bolsa é resultado da fuga de investidores? Mas, alguém já viu um investidor estrangeiro? Sabe se ele existe, como ele é, o cheiro que tem, com o que parece?

Bom, só sei que no alto da minha ignorância nunca vi um átomo nem um investidor estrangeiro… Só sei que andam dizendo por ai que a coisa vai pegar. E a culpa é desses dois ai!!

Read Full Post »

Um dos meus passatempos preferidos tem sido acompanhar as eleições americanas. Tem gente que critica, diz que deveríamos nos concentrar na municipal do nosso país, ao que rebato: com certeza, acompanho as duas, da mesma maneira que assisto ao Jornal da Globo e ao Casseta e Planeta, um não anula o outro. Mas se bem que os candidatos a vice de lá andam protagonizando situações dignas da nossa comédia eleitoral tupiniquim.

Em meio à grave crise econômica, os dois conseguem arrancar boas gargalhadas com as memoráveis gafes de Sarah Palin e Joe Biden. A primeira, por exemplo, disse que tinha experiência em política internacional porque dava pra ver a Rússia lá do Alasca (sic). Um comentarista americano não perdeu a deixa e emendou: “ora, da minha casa eu consigo ver a lua, isso não me faz um doutor em astro-física”. Outra gafe foi quando Sarah, que é formada em jornalismo, não conseguiu nomear um jornal pelo qual se informava, apenas disse que lia todos. A entrevistadora insistiu, pediu um, unzinho sequer, mas ela não soube dizer.

Já Joe Biden, durante uma convenção do partido em que fazia as honras de orador, pediu para um senador democrata se levantar para que todos pudessem vê-lo. (O cara era tetraplégico!) “oh my god, what I’m talking about”. No começo da crise também criticou Bush por não ir a TV acalmar os mercados como o presidente Roosvelt fez durante a crise de 29. (Em 29 o presidente não era o Roosevelt, e, pior, nem existia TV).

Por isso o debate de ontem entre os vices prometia ser inesquecível. Acompanhei todinho pelo site do NYT e a todo momento esperava os dois trocarem ofensas à la Maluf e Marta. Agora vai, agora vai, pensava a cada momento. Imaginei que começaria assim: “A senhora ofende os americanos dizendo que vai saber cuidar das questões internacionais só porque consegue ver a Rússia do seu jardim”. “Fique quieto seu velho broxa, vai lá assistir TV com o Roosevelt”. “Me respeite mocréia, pelo menos eu leio jornal”. “Ah cala a boca, levanta ai, levanta ai, levanta seu babaca”.

Mas não, não aconteceu nada. Que decepção, em questões de baixaria eleitoral, eles tem muito que aprender conosco.

Read Full Post »

ISENTO NEWS

Há 180 anos ouvindo os dois lados da notícia

Meia dúzia de estudantes foram detidos e levados para o 16º Distrito Policial após invadirem o prédio da reitoria da UNIPRESP (Universidade Federal de Prevaricação de São Paulo), na Vila Peculato, no início da madrugada deste sábado.

Segundo a assessoria da UNIPRESP, os alunos não chegaram a invadir de fato, pois foram contidos antes pelos seguranças do prédio. Para o reitor Ulisses Estelionato Neto, a atitude é condenável: “São uns vagabundos baderneiros que pensam que estão fazendo alguma coisa, na verdade não passam de esquizofrênicos retardados mentais”.

O líder estudantil Cheguevara da Silva se defende. Segundo o meliante o movimento é legítimo: “Dois ovos, um pouco de salsa, farinha de trigo e manjericão. Modo de preparo: colocar os ingredientes na tigela, misturar bem, e levar ao forno, ao final é só acrescentar sal, e pimenta, muita pimenta, de preferência em spray”, diz o líder maconheiro.

Personalidades da sociedade civil também condenam a invasão. Para a atriz Regina Medo Duarte é um absurdo invadir a sede da reitoria: “Nós do movimento civil achamos que CHEGA de violência, não queremos ver nossas instituições tomadas por vândalos, certamente que a classe artística bigbrotherística é contra esse tipo de ação”.

Já o prefeito Gilberto Kanabis disse que a polícia tomará providências severas contra os vândalos. “Será organizada uma força tarefa a fim de coibir esse tipo de crime. A ação será inloco, onde guardas armados assistirão aulas de sociologia e antropologia e terão permissão para atirar quando ouvirem a primeira menção a Marx”, promete nosso proeminente prefeito.

Na delegacia a polícia encontrou cigarrinhos de maconha no bolso dos estudantes. Eles foram algemados enquanto cantavam hinos de guerra leninistas e juravam vingança contra a sociedade capitalista. Um deles agrediu um policial que apenas se defendeu e quebrou três ossos do violento meliante.

A reportagem do Isento News entrevistou um dos detidos com exclusividade. Segundo ele os motivos da invasão foram: “As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia Lusitana, Por mares nunca de antes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; Deixando à mão esquerda; que à direita, Não há certeza doutra, mas suspeita”, complementa o rebelde sem causa.

Read Full Post »

Acho bacana a visão que o Lula tem da América Latina. Agora, com esse caso Odebrecht vs Equador, ele disse: “Imagina sua casa, com os irmãos menores. Você pode estar com a razão, mas eles ficam te cobrando coisas”. Não deixa de ser bonita essa visão de que somos todos uma grande família de irmãos, com o Brasil cuidando dos caçulos.

A imprensa, por outro lado, parece querer que pequenos atritos virem labaredas de fogo. O Estadão logo depois da frase de Lula sentenciou: “disse Lula, reiterando a política de seu governo de paciência quase sem limite para com os vizinhos da região”. Porra! O que eles queriam? Que mandássemos o general Augusto Heleno invadir aquela droga de país e mostrar quem é que manda?

Jornais e revistas sempre cobram um discurso mais efusivo, ou mesmo, mais bélico para as questões da América Latina. Tenho a séria desconfiança que a imprensa brasileira tem um sonho secreto de cobrir uma guerra, de ver a pacífica Sul-América explodindo em sangue e pólvora pra poder mandar seus jornalistas baterem fotos incríveis e participar de algo verdadeiramente histórico. Cada vez mais tenho reparadonas entrelinhas esse desejo. Como no caso da Bolívia, quando em 2006 Evo Morales ameaçou estatizar a exploração de gás deixando a Petrobras chupando dedo. As manchetes tinham um tom ufanista, revanchista, quase como se os pobres bolivianos tivessem atacado nossa Peral Harbor. “Invade Brasil”, devia ser o mantra secreto dos gordos chefes de redação.

Ainda bem que Lula caga e sempre cagou pra nossa imprensa. É só mais um irmão menor que insiste em lhe aporrinhar. E é melhor assim, deixa ele seguir com essa visão conciliadora, acolhendo irmãos sem rumo e tentando construir uma política unificada, fumando seu cigarrinho e comendo seus esses. No futuro, quem sabe, esses mesmos jornalistas percebam que, sem querer, já estão vivendo o tal momento histórico.

Read Full Post »

Existem pessoas que são como entidades. Por exemplo, o Papa é uma entidade da Igreja Católica, Michael Schumaker é uma entidade da Formula 1 e Fidel Castro é uma entidade comunista. Por isso, se existe uma entidade paulistana por excelência, esse sujeito é: Paulo Maluf.

Em minha opinião ele representa toda síntese megalomaníaca em que vivemos. É uma espécie de faraó frustrado pós-moderno. Outro dia vi uma entrevista dele no SPTV primeira edição. Chico Pinheiro e Carla Vilhena abriram o bloco e o proeminente engenheiro Paulo Maluf já foi metendo sua propaganda. “Sabe Chico Pinheiro”, disse com aquela voz inconfundível de Maluf, “quando tenho tempo eu adoro ver esse programa, ainda mais com esse novo cenário, onde a gente pode ver essa cidade enorme, magnífica, construída por Paulo Maluf”. O cara nem deu tempo pro telespectador respirar e já foi direto na veia.

É um megalomaníaco! E ainda por cima esquizofrênico. Como pode falar de si mesmo na terceira pessoa? Ele deve andar de carro pela cidade se congratulando pelas avenidas que fez: “olha só essa marginal seu Paulo Maluf, e esse túnel, que obra magnífica. Parabéns Paulo Maluf, parabéns, você é o melhor prefeito que essa cidade já teve”.

Quando digo que o cara é uma entidade paulistana é mais por essa sua loucura excêntrica. Quer dizer, qual a diferença entre Paulo Maluf e aquele mendigo louco que fala sozinho nos cruzamentos das avenidas poluídas? Talvez só a grana, já que ambos são vítimas da mesma patologia mental resultante das grandes concentrações urbanas.

Creio que Maluf é um representante legítimo da loucura egocentrista paulistana. Hoje abro o jornal e me deparo com a notícia: “Maluf faz carreata no dia Sem Carro”. E como justificativa ele diz que as pessoas têm o direito de andar de carro, sim! O que tem que fazer é construir mais rodovias, estradas e viadutos. Porra! É um cara alheio alheio à ecologia, alheio à sociedade, alheio a tudo! Só quer saber de concreto. Acho que não tem outra ciência além da psiquiatria que seja capaz de o defini-lo! 

Ainda bem que a sociedade evoluiu em alguns aspectos. Felizmente esse cara dificilmente volta pro poder executivo (no legislativo com certeza tem cadeira garantida, já que o congresso é uma espécie de circo nacional de palhaços), mas imagina se continuasse? Imagina se vivêssemos em uma monarquia? Com nosso Rei, vossa majestade engenheiro Paulo Maluf, mandando fazer uma pirâmide de Gizé em plena Rodovia dos Imigrantes para alertar os que vêm de fora de que quem manda nessa porra aqui, é um engenheiro.

 

Read Full Post »

Estou lendo um livro sobre o Islã do jornalista Ali Kamel. Entre outras coisas fala das semelhanças entre evangelho e alcorão. É engraçado ver como nos dois livros dá pra encontrar o trio parada dura: Moises, Abraão e Jesus. A história é praticamente igual, com uma diferençazinha aqui, outra acolá, mas no geral dá pra perceber que a fé é uma coisa só, o que muda é quem escreve e como escreve.

E é ai que mora o perigo. Maomé, por exemplo, o profeta do alcorão, escritor por excelência, não era um homem muito afeito a metáforas. Ele descreve o paraíso mais ou menos como os católicos, com a diferença que pra ele não tem essa coisinha ridícula de maçã; Adão tava querendo é comer Eva mesmo! Existe a passagem da árvore com o tal fruto proibido, mas o que sucedeu nas suras alcorânicas é que Adão, muito do esperto, mandou a gostosinha da Evinha subir lá para pegar um petisquinho em cima da árvore enquanto ele assistia a corrida de coelhos sentado numa confortável pedra no Paraíso. Eva, também conhecida como Amélia, subiu. Aí pronto. O jovem Adão olhou pra bundinha empinadinha dela e pensou: “hummm”. E fez-se o pecado!

No fundo, talvez, o que separe a civilização católica Ocidental libertária do Islã Oriental repressor seja simplesmente uma metáfora. Não tenho dúvida que tem muito neguinho no Brasil que não come maça de jeito nenhum, mas sai passando o rodo geral no carnaval, afinal, o pecado é a maça! Já às pobres mulheres muçulmanas restou a burca. Andam vestidas de cabo a rabo pros Adões da vida não caírem em tentação mais uma vez. 

PS: (pra quem duvida que tem gente que não come maça porque não entendeu uma metáfora, fique sabendo que tem coisa bem mais absurda acontecendo por ai…  Com vocês: Oséias capítulo III)

Read Full Post »

Os caras tem agora um acelerador de partículas. Já li em diversos locais sobre ele, mas cada um fala uma coisa diferente. A “Veja” disse que o aparelho vai acabar com o mundo; vai criar diversos pequenos buracos negros que se juntarão, formando outros maiores, até consumir o planeta todo. A “Super Interessante” disse que a geringonça vai possibilitar criar fendas no tempo e o ser humano finalmente vai ser capaz de fazer viagens temporais. Ontem, o “Fantástico” disse que seremos capazes de saber exatamente de onde viemos, já que a aceleração vai recriar o ambiente físico que possibilitou o Big Bang.

Querem matar Deus de todas as maneiras! Cientistas descabelados barbudo quatro olhos brincam com a realidade como se fossem crianças curiosas e proclama aos sete ventos: “Deus é um delírio!”.

Tolos!

Deus é o que não conhecemos, é o mistério, é a esperança da caixa de Pandora, é tudo que não entendemos, apenas sentimos e nos apegamos. Esses cientistas malucos podem até descobrir do que é feito o universo, separar a matéria, criar padrões químicos e físicos pra tudo, mas nunca, nunca, serão capazes de matar Deus! E por uma simples e primária questão social, que fica totalmente fora da alçada técnica deles: você não explica certas coisas pro povo!

Pois é, enquanto uns analisam partículas subatômicas, outros louvam reis do petróleo. Enquanto uns querem abrir fendas na realidade, outros rezam ante a suada janta nossa de cada dia. Uns decodificam o universo, outros hierarquizam a fé.

O problema não é descobrir de onde viemos…

… o problema é explicar essa porra toda aí pra nóis truta !

Read Full Post »

O New York Times está fazendo uma série de vídeos sobre as eleições americanas. Eles entrevistam delegados, senadores, assessores, mas, principalmente, o americano comum – os tais red necks, ou hillbillies, como eles chamam.

É engraçado ver como os valores de certas nações mudam drásticamente. Um candidato americano deve enfrentar questões morais cabeludas como: aborto, traição, religião, gravidez na adolescência. Qualquer escorregada é analisada de perto pelos caipiras, que, como guardiões das morais e bons costumes, parecem ter paradigmas concretos do que realmente querem como nação.

Os republicanos, por exemplo, enfrentaram uma saia justa com a escolha de Sarah Palin, governadora do Alasca, para encabeçar a vice-presidência na chapa de Mccain. É um absurdo que a filha dela, de 17 anos, estaja grávida! Como pode uma coisas dessas? Uma republicana!

Por aqui, tudo o que a gente pede pros nossos políticos é para não serem corruptos. Eles podem comer quem eles quiserem, aparecer com modelos sem cacinha, transar com a jornalista gostosa, encher a cara, fazer dancinha no Congresso, relaxar e gozar. Podem fazer tudo… a gente deixa! Só pedimos que os filhas-das-putas não nos roubem. É só isso que a gente pede!!!

… mas, não, os desgraçados continuam.

Read Full Post »

Renatinha vinha de família tradicional, estudou em boas escolas, freqüentou clubes sociais, morou em Londres. O que ela não entendia, era como um ignorante estava na presidência: “Esse sapo barbudo!”, exclamava olhando pra TV. Sua família, de bom sobrenome, também era contra. Seu pai, Fernando de Albuquerque, costumava proclamar virulentos discursos na hora do almoço, enquanto sua mãe demonstrava nojo batendo na foto do “imbecil ignorante” nas capas das revistas.

A jovem Renatinha acabou entrando para a militância de partidos de oposição. Participava de reuniões, levava cartazes, pintava o rosto. Queria fazer parte da juventude que iria derrubar aquela anta aleijada, o imbecil, o retirante canastrão. Travava ferozes discussões com os alienados da esquerda, simpatizantes e a massa desinteressada de não-politizados.

Foi então que certo dia, numa movimentada avenida da cidade, enquanto segurava um cartaz de “Impeachment Já!” , foi fotografada por um sujeito que passava. Click! Ele mostrou a foto no visor digital e puxou assunto. “Oi, meu nome é Luis, se você quiser posso te mandar a foto por e-mail depois”. Conversaram um pouco sobre política, descobriram afinidades, idéias, músicas. Marcaram de ir naquele show daquele jazzista internacional que estava na cidade. De lá partiram direto para loucuras de amor naquele motel com decoração egípcia e cama king-size perto dos Jardins.

Renatinha estava avoada. O pai, seu Fernando de Albuquerque, ficou preocupado. A filha não se agitava mais no jantar, não gritava “é isso ae”, depois de cada um de seus discursos. A mãe passou a ter certeza de que tinha algo de errado, a filha não xingava mais as fotos do presidente! Até o tal partido de oposição que era sua nova paixão, ela parou de frequentar. “Tá tudo bem filha?”. “Claro mãe, tudo maravilhosamente bem!”.

O pai chegou a pedir uma investigação tributária, imaginou que a filha estivesse recebendo um bolsa-família ou um vale qualquer coisa. Mas não. “Que coisa estranha!” Com o tempo, seu Albuquerque e a esposa deixaram a filha de lado. De qualquer maneira ela parecia estar de bem com a vida; sorria, cantava e suspirava.  

O que eles nunca descobriram, é que, secretamente, Renatinha e Luis passaram a chamar o sapo barbudo de “cupido barbudo”. Mas era melhor manter em segredo. Se o seu Fernando de Albuquerque soubesse, era capaz do velho ter um infarto.

 

Read Full Post »

Tem um amigo que diz não importar quem vai ganhar as eleições nos EUA, as coisas vão continuar na mesma. Talvez num plano de dominação meticulosamente desenhado, com a democracia sendo nada menos que uma arma de engodo popular imperialista, essa tese tenha lá algum fundamento. Mas, se olharmos pelo lado prático, talvez nunca na história uma escolha tenha representado tanta diferença.

Por um lado, Obama vende o tom conciliador, do diálogo. Disse que vai conversar com os vilões do cenário internacional, proteger a economia do país, cortar impostos, cuidar do Estado. É constantemente acusado pelos opositores de se vender como o novo messias, o salvador da pátria, um ponto purificado de luz, uma religião da fé-política moderna.

Já Mccain, velho de guerra, segue o estilo “salve-se quem puder” que os Republicanos implantaram no mundo nos últimos oito anos. Neoliberal, partidário de fendas econômica, servo de interesses corporativos e, acima de tudo: bélico!

Ambos não devem ser seres humanos normais. E não só porque um acha que é o Bradock do Vietnã e o outro tem certeza de que é o The One do Matrix, não. Deixando o marketing de lado, é difícil entender como um ser-humano normal gostaria de ser presidente dos EUA nesse momento. Guerra no Iraque, economia cambaleante, depressão moral da população, Hugo Chavez, Coréia do Norte, Meio Ambiente e agora, como se não bastasse, uma nova pendenga com um antigo inimigo revanchista: A Rússia. Bush sujou tanto o mundo, que só mesmo um Messias pra limpar a merda toda. No fundo, talvez, o povo saiba disso. Obama também talvez saiba que o povo sabe e por isso só faz o que ele sabe ser certo.

Diálogo é o que todo mundo quer! Ninguém tem mais saco pra guerras. Ainda mais num mundo com silicone, internet, sexo, drogas sintéticas e tecnologias a mil. Mas na prática, e os americanos são conhecidos pela sua praticidade, todo mundo sabe que a probabilidade maior é dar merda no final. Afinal, é só olhar para os fatos.

E então tudo se resume a um simples problema de fé. Não há dúvidas que os dois políticos vão fazer de tudo para não fuderem com país, mas, mesmo assim, votar em Obama ou Mccain é mais uma questão de: vale a pena acreditar na humanidade ou é melhor sair quebrando tudo e salvar our fucking asses?

E se o Taleban apertar no Oriente Médio, e se a Rússia der uma banana para os organismos internacionais, e se a economia piorar, e se a China restabelecer o comunismo, e se o Brasil decidir usar todos recursos naturais sozinho e começar a cobrar uma fábula pelo rango que planta fazendo os africanos decidirem cobrar séculos de exploração pegando em armas e realizando atentados terroristas junto com a Al Qaeda? Aí, meu amigo… bem, aí eles vão se fuck and screw.

Eu particularmente, voto pela fé. Acho que a gente chegou a tal estágio nessa evolução vertiginosa que não existe análise científica segura pra dizer aonde vamos. O melhor mesmo é ajoelhar na frente de qualquer coisa (seja Alá, Deus, Shiva, Buda, Padre Marcelo, um livrinho da Cientologia ou do Obama) e fazer uma fézinha. Afinal, tem que ter alguém pra nos salvar (ou pra botar a culpa).

Mas, olhando por outro ângulo, há sempre a possibilidade das eleições serem apenas um joguete de cartas marcadas. E, por isso, estaríamos nos preocupando à toa. Né não?

É, acho que sim. Se pensar bem, seria tolice demais deixar a nação mais poderosa do mundo nas mãos dessa coisa absurda chamada democracia…

Read Full Post »

GRANA!

Às vezes a humanidade é de entediar qualquer um. São bilhões de seres agitados, inquietos, buscando o seu, correndo atrás, querendo uma parte do bolo… Do que? Perguntariam alguns. “Da grana meu amigo”, responderia o Emerson Fittipaldi. E pra que? “Da grana meu amigo, e ponto final”.

Não sou um daqueles anti-materialistas que pregam o abraçamento incondicional de árvores, mas também não vejo sentido em passar a vida inteira correndo atrás da tal grana. Afinal, pra que? Comprar uma porrada de coisas, montar uma estante de livros não lidos, um garagem de carros não dirigidos e uma carteira imobiliária de apartamentos não habitados?

Essa mania de comprar tudo e qualquer coisa talvez seja a característica mais marcante da nossa geração. É um prazer fugaz, que se resume a visão sedutora do cartão de plástico na maquininha de Rede Shop. É como um ato erótico, pornográfico, com gritos de êxtase no final da transação, quando é impresso seu boleto após o mercado contabilizar mais um orgasmo econômico com sua grana.

Talvez o próximo passo importante da humanidade seja desmistificar o tal mercado, se libertar dessa escravidão moderna de consumo. Mas também não sou lá muito afeito de ideologias poéticas esquerdistas, do tipo: vamos trocar dinheiro por canções, versos e carinho. Até porque ninguém ia arar a terra e plantar feijão pra chegar no fim do mês e ouvir um versinho do tipo: “batatinha quando nasce blábláblá…”. Pois é, essas coisas só funcionam em comercial de margarina e redações infantis.

Sou da direita prática! Quero soluções eficazes para acabar com o consumismo e frear a ganância humana. Como? Ah, não sei…

… Se soubesse já estava rico!

Read Full Post »

É DE DIAMANTE

No último domingo vi no Fantástico uma reportagem sobre o judoca Eduardo Santos. Ele havia aparecido alguns dias antes, se debulhando em lágrimas para o país depois de perder o bronze na competição. Pediu desculpas à família, ao comitê, ao povo brasileiro. A matéria do Fantástico mostrava a volta. Quando ele chegou no seu bairro, em São Caetano, sob aplauso calorosos de centenas de fãs e admiradores. Abraço do pai, lágrimas da mãe, olhares lascivos das menininhas, de admiração dos rapazes. O cara recebeu uma verdadeira recepção de herói. Mesmo tendo voltado de mãos vazias!

Isso me fez pensar em toda essa situação do Brasil nos jogos olímpicos. Trigésimo terceiro lugar. Atrás do Quênia, do Zimbábue, do Cazaquistão. Não é uma vergonha para um país continental como o nosso figurar lá entre os figurantes? Será que não era hora da gente se levantar como nação e mostrar ao mundo para que viemos? Espremer nossos atletas, derrubar nossas florestas, escravizar nossas crianças, secar nossa energia, aumentar nosso exército! Temos que acabar com esse marasmo, com a preguiça, com a moleza, com as desculpas!

Mas ai volta o atleta perdedor e come um churrasquinho com os amigos. Rola um pagodinho, umas brahminhas, paquera, dança, riso, espetinho, farofa. E pelas lentes do Fantástico a gente percebe que enquanto EUA e China se matam por medalhas de ouro em atividades olímpicas, a gente já tem nossa em compaixão. E é de diamante, como disse a mãe do atleta.

Read Full Post »

OPERAÇÃO DELETE

Estou lendo “Uma Breve História do Mundo”, livro do historiador americano Geofrey Blainey. É uma obra bacana, na qual o autor discorre brevemente sobre os grandes feitos e impérios da humanidade; desde o tempo que puxávamos nossas mulheres pelos cabelos, até os dias que elas nos deixam careca.

Cito esse livro porque ler sobre história dá sensação de que a humanidade é uma massa fermentada de impérios antropofágicos, que crescem e engolem tudo que vêem pela frente, até chegar ao ponto de declínio, onde suas grandes obras ficam relegadas a um museu e seus heróis imortalizados em estátuas cagadas por pombos em praças públicas.

Olhando por essa ótica, nada mais natural do que o império americano gozar do seu direito de potência mundial e aniquilar seus inimigos do “eixo do mal”, certo? Claro, por que não? Eles devem ter esse direito histórico. O problema é que eles não querem só dominar o mundo, querem dominar a história também. Os yankees roubam no jogo!

Pensei nisso ontem, quando assisti a uma palestra do arqueólogo iraquiano Dr. Ahmad Semeh, no Centro Cultural Sírio de São Paulo. No seu pós-doutorado pela universidade de Varsóvia ele realizou um mapeamento dos sítios arqueológicos no Iraque após a invasão americana. Através de slides ele mostrou o desprezo com que as tropas aliadas trataram as relíquias da antiga Mesopotâmia.

Fotos de soldados depredando sítios arqueológicos e centenas de livros raros em chamas chocaram a platéia. A estimativa do doutor Semeh é de que mais de 200 mil peças raras desapareceram dos museus de Bagdá e de outras cidades do país, além é claro dos danos a prédios históricos e monumentos. Pra se ter uma idéia, até mesmo um heliporto foi montado nas ruínas de Babilônia. Uma perda inestimável para o conhecimento humano e para as futuras gerações.

Uma coisa é querer ganhar o jogo, outra bem diferente é apagar os registros históricos dos que tentaram antes de você. Isso é trapaça, e das brabas!

 

Uma ironia, ou mera peça de um jogo maquiavélico, que a nação que exalta um herói arqueólogo no cinema, queira aniquilar com nossa memória coletiva.

Read Full Post »

“Bem amigos da Rede Globo, está começando mais uma transmissão ao vivo de Pequim com a abertura dos jogos olímpicos”. Quem acordou cedo na última sexta-feira para assistir ao evento transmitido mundialmente deve ter se decepcionado quando ouviu a voz de Galvão Bueno. “Os chineses criaram os fogos de artifício, por isso tem obrigação de fazer uma boa apresentação”. Comentários como esse estragaram a tão bem ensaiada coreografia dos chineses.

Galvão Bueno é um dos símbolos do atraso no nosso país. É incompreensível como um sujeito tão medíocre continue a figurar em transmissões importantes como Olimpíadas e Copa do Mundo. Talvez essa seja a prova mais contundente de que a Globo aposte na ignorância dos brasileiros. “Não, deixa o cara lá, o povão gosta”, devem pensar os executivos da emissora.

O fato é que Galvão não tem nada de povão. Ele não passa de um velhote yuppie com roupagem popular. Nada do que o cara diz soa autêntico, cada palavra machuca, toda reflexão sua é burra. É uma ofensa ouvir sua voz. É como se ele te chamasse de retardado e esperasse por uma reação; mais ou menos como uma provocação de bar, no qual o sujeito quebra uma garrafa, te xinga de filho-da-puta e chama pro pau.

Durante a transmissão da abertura dos jogos, fomos brindados com comentários decentes e pertinentes da dupla de jornalistas Marcos Uchôa e Sonia Bridi, que já estão na China há mais de um ano como correspondentes. Os dois apresentaram um contexto histórico do país, traçaram panoramas para o futuro da China e a influência desse evento no resto do mundo. É incrível o contraste dos dois com o âncora da transmissão: “Eu conversei com o presidente da Comitê Olímpico Internacional e perguntei sobre o caso Ronaldinho”. Mas que porra esse Galvão tem com o Ronaldinho? Por que deixam esse cara falar? Como permitem que ele fale com o Jacques Rogge? Por que diabos não internam esse maluco?

Na metade do século passado a Revolução Cultural chinesa matou milhares de cidadãos que na opinião do regime representavam o atraso e retrocesso do país. Não sou muito afeito a esse tipo de revolução, mas se o negócio pegar aqui no Brasil, que eu vou jogar uma pedra nesse filha-da-puta, ah isso eu vou!

Read Full Post »

ESTAMOS FICANDO VELHOS

O SEU PASSADO…

 … E O NOSSO

 

 

Ainda falando de geração, acho que nós somos a primeira a ter consciência do que realmente quer dizer a palavra “geração”. Se compararmos a história da humanidade com a vida de uma pessoa, a famosa geração 68 foi a adolescência rebelde enquanto a nossa está mais para uma pré-vida-adulta. Somos a passagem do irresponsavel baladeiro para o cauteloso recém-empregado.

Dizem que depois dos 18 a vida corre mais rápida, mas acho que é porque temos mais consciência das coisas. Não consigo me lembrar bem de todos os fatos que aconteceram em minha infância, muitos deles são mistérios arqueológicos enterrados em meu cérebro subdesenvolvido. Mas depois dos 18 lembro exatamente de tudo: trabalhos que tive, lugares que visitei, amizades que fiz, enfim, é um período de maior autoconsciência, onde posso analisar com base no passado.

Talvez a psicanálise esteja para o ser humano individual assim como a arqueologia está para o ser humano coletivo. Estudar períodos históricos antigos e desvendar os mistérios do passado deve ser tão difícil quanto descobrir traumas e complexos de infância.  O que nos resta da antiguidade são apenas meras lembranças em formas de vasos gregos corroídos pelo tempo, sem nem comparação com a nossa recente caixinha de recordações, com fotos, película e sons aprisionados em vinis.

Estamos entrando na idade adulta, uma era na qual é mais fácil aprender com nossos próprios erros, pois podemos vê-los em movimento no cinema, TV ou Youtube. Nossos registros históricos são melhores, cada vez mais potentes. Estudar história através de imagens equivale a olhar fotos antigas no álbum de família: “putz, olha esse cabelo da minha fase de metaleiro, nossa, olha essa de quando fui hare krishna, putz e esse moicano dos meus tempos de punk”. A humanidade é como um jovem indeciso, já fomos de tudo: de iluminista a capitalista, passando por nazista e comunista.

Nesse sentido acho que 68 foi nosso desbunde final. A festa de formatura, o início da autoconsciência, o fim da rebeldia pela rebeldia. Agora é hora de encarar a vida adulta, passar a ter responsabilidades, pagar as contas e se preparar para a aposentadoria.

Se cada geração é como uma foto, a nossa é a do sujeito de terninho e gravata segurando uma pastinha no recém conquistado primeiro emprego. Não temos mais espinhas no rosto, mas está na hora de decidir que tipo de cara a gente quer ter.

Read Full Post »

DEPOIS DA FESTA…

Muito se fala da tal geração de 68. Ainda mais agora, que são comemorados 40 anos daquela que é exaltada como: “a geração mais bacana que esse mundo já teve”. É difícil fazer uma análise do que foi esse bando de hippies loucos, ainda mais quando você tem apenas 25 anos mal vividos; ou seja, enquanto todos trepavam loucamente e usavam drogas para mudar o mundo eu era apenas um projeto de ser humano aguardando do lado de fora, doido pra entrar na festa.

E então eu entrei, mas azarado que sou, cheguei atrasado. Perdi toda maluquice dos ácidos, LSD, marijuana e outros psicotrópicos bacanas. Perdi as músicas legais, os hinos do rock, a psicodelia, as roupas maneiras, os hippies, os beats, os bundalelês, os malucos belezas, as golas roles. É como chegar depois da festa e se deparar com uma casa suja, com camisinhas e latas de cerveja por todo canto e fotos polaroides da festa atiradas no chão.

Minha geração é de faxineiros! Somos como aqueles garis que tem que limpar o sambódromo após o carnaval. O planeta está todo fudido, furacão, terremoto, superpopulação, crises, monóxido de carbono, derretimento das calotas polares, tudo rui, tudo desaba. E nós, faxineiros do sambódromo, ficamos aqui, sentados na guia, fumando nossos cigarros e olhando pra todo esse lixo acumulado, esperando outra festa milagrosa que talvez nunca mais aconteça.

E dale geração de 68! Documentários com fundo musical nos fazem crer que somos uma geração de bosta, e, talvez, de fato o sejamos mesmo. Não temos ditadura, não temos rock n’roll, não temos poesia. Na maioria das vezes preferimos nos esconder no passado e usar uma camiseta do Led Zepelim ou do Che ao invés de criar nova tendências.

Parece que nada tem a mesma medida hoje em dia. Os comunistas não são tão comunistas, os doidos não são tão doidos, as festas não são tão festas e o colorido não é tão colorido. Nossa droga tecnológica é liberada em vídeo-games alucinantes, mas a droga deles nos é proibida na letra da lei. Nem marcha da maconha conseguimos fazer, quem dirá fumar unzinho sem culpa.

Somos a geração perfeita para terminar a vida na terra. Um bando de niilistas frustrados, sem perspectivas, apáticos e sem motivação. Mas fazer o que? Não dá pra exigir demais dos garis de fim de festa. Talvez um dia, quando tudo terminar, alguém diga que poderíamos ser como aquele gari feliz que desfila no Rio de Janeiro e volta e meia aparece na televisão. Poderíamos ter sido uma geração entulhada no lixo, mas feliz! Sambando contra tudo e contra todos. Mas, no fundo, só iríamos transferir a responsabilidade, empurrar com a barriga. Acho que essa depressão toda ainda pode ser nossa salvação, talvez a gente ainda consiga limpar o sambódromo para a próxima festa…

Pena que vou estar muito velho, e as menininhas vão me chamar de tiozão tarado…

Read Full Post »

DEVAGAR, QUASE PARANDO

Falamos muito do Baiano, mas o Brasil é uma grande Bahia. A gente é lerdo demais! Nossa história avança como um velho domingueiro num fusca quebrado. Acho incrível a capacidade que a gente tem de perder momentos históricos. Quer um exemplo? A colonização! A gente nem terminou direito a colonização de nosso território e já queremos uma cadeira nas Nações Unidas, nem terminamos de matar nossos índios e queremos ser atores no cenário internacional, nem atingimos a igualdade racial e queremos participar da Globalização. Hoje saiu na Folha de São Paulo que os negros ainda vivem nos mesmos lugares à época da escravidão. Ora, se não somos capazes de criar condições iguais para nossa população, quem somos nós para sentir qualquer tipo de orgulho? E puta-que-pariu, como o Brasileiro é orgulhoso! não aceita críticas de jeito nenhum. Não entendo da onde vem isso… do futebol, copa do mundo? Porra, realmente, que orgulho de nossos heróis da pelota; putaria e travestis, motores do ego nacional! Ainda por cima tem a questão indígena. As tribos no Norte do país crescem geometricamente e não vai demorar pra chegar o dia em que seremos invadidos por furiosos caiapós de arco-e-flecha (talvez com algumas ogivas nucleares americanas). Seria um estudo antropológico interessante, a nação que foi engolida por índios; Levi Strauss vai dar saltos no alto de seus 100 anos. Eu ia gostar; com essa política de caciques que a gente tem, pelo menos ia ser mais honesto nos assumir como tribo em vez de país. E também, sei lá, parece que o momento é outro. O resto do mundo preocupado com problemas maiores: aquecimento global, furacões, terremotos, fim do mundo. Nasce uma consciência ecológica na humanidade, mas em contrapartida nós aqui, o país do futuro, ainda nos debatemos com os mesmos problemas de 500 anos atrás! Acho que deveríamos ter ao menos um terremoto descente! Seria nosso primeiro sinal de progresso…

Read Full Post »

Às vezes gostaria de ser chinês. Tudo bem que eles são meio estranhos, cospem no chão, arrotam na mesa e peidam em público. Mas sei lá, acho que no momento eles devem ter notícias mais legais pra ver na televisão. Imagina ter a disposição um censor 24 horas escolhendo a programação que fosse te agradar, sem violência, sem crimes, sem crises, sem nada de ruim. Porra! A gente paga tanto imposto, acho que deveríamos ter um serviço parecido.A moda agora é ser chinês! E é por isso que eu digo que esse negócio de supervalorizar a liberdade de imprensa é de uma mentalidade ocidental meio que ultrapassada. Olha só no que deu. BBC, CNN, Fox News, Rede Globo, caso Isabela, cartões corporativos. Democratizar a informação equivale a abrir a tal caixinha de pandora. São monstros, doenças, tragédias, desastres, tudo voando ao redor da terra em ondas difusoras.

O foda é que agora fica difícil fechar a caixinha. A liberdade é qualquer coisa que vicia e não se controla.

Mas quem estudar o mito de Pandora sabe que a única coisa que resta, ali, bem no fundinho, é a tal esperança… Pois é, a tal esperança! Uma velha conhecida nossa. Brasileiro adora a tal esperança. Ainda mais em época de Copa do Mundo e Olimpíadas.

Acho que por isso que essas Olimpíadas prometem. A pandorinha deles fechadinha e a nossa arregaçada. A esperança deles guardadinha, a nossa a flor da pele. Sei não, vai ter qualquer coisa de histórico na China este ano. E por isso digo: que venha Pequim! esperança eu tenho, mas bem que gostaria de ser um chinês agora pra não ter que presenciar tudo.

Read Full Post »

ECONOMISTAS E VIDENTES

hitlers_volkswagen_sketch1.jpg 

Acho que só uma vidente da Praça da Sé é menos confiável que um economista brasileiro. Ou talvez da na mesma, já que parece que os dois emitem opiniões baseados nos mistérios do cosmos e do desconhecido. Esse lance da CPMF, por exemplo. Não manjo de economia, mas eu vi, juro que vi, vários economistas preocupados com o fim do imposto. Diziam que ia faltar, que não teria dinheiro, que o governo teria que cortar gastos ou criar outro imposto…

…No mês seguinte o país bateu recorde de arrecadação e em fevereiro pagou a dívida externa.

É engraçado, mas os caras não têm a menor noção do que estão falando, possuem um poder de previsão zero. Acho que se os instrumentos de trabalho de nossos economistas são bolas de cristais, tarô cigano e um kit candomblé.  

Enquanto isso os EUA, um país que tem pesquisa pra tudo e possui instrumentos dos mais modernos, passa por uma crise. É como se os americanos dirigissem uma nave Enterprise, com milhões de botões, comandos, gráficos, números, coordenadas e mesmo assim caminhassem em direção ao buraco negro.

Já a gente ta mais parecido com um fusquinha dirigido pelo pai-ébrio-Lula. Com um bando de economista desesperado no banco de trás gritando e segurando imagens de santos e fitinhas do Senhor do Bonfim: “não vai dar”, “olha a curva”, “seguraaa!!”. A gente não sabe bem pra onde tá indo… mas um dia a gente chega lá! né não pai-Lula?

Brasileiro sempre teve mais sorte que juízo.

Read Full Post »

NOTAS DE UM ALARMISTA

 tsunami_wave_coming_now_too_late.jpg

Com esse lance de aquecimento Global a gente vive hoje algo parecido com o que gerações anteriores viveram durante a guerra fria. É uma desconfortável sensação de que tudo pode acabar assim, de uma hora pra outra. Antes com o tal botão vermelho, hoje com um tsunami gigante causado pelo derretimento das calotas polares.

Só que eu acho que a maioria dos jovens da nossa época ainda não percebeu ou não se ligou na gravidade do problema. Digo, não é só o tal do “faça sua parte”, não quero só fechar a torneira enquanto faço a barba, não é só separar o lixo. Claro, isso é importante, mas ainda estou aguardando aquela agitação cultural que seguiu o fim da Segunda Guerra Mundial, aquela profusão de vida, aquela inquietação sexual, aquela putaria toda, aquela ânsia de viver.

Mas não, ao contrário disso eu só vejo jovens seguindo o fluxo social, um atrás do outro, nadando em direção da tão sonhada estabilidade. Estabilidade, tai uma palavrinha estranha. De que vale uma família ou carreira estável num mundo degringolante? Digo, é um absurdo virem com campanhas anti-tabagistas a essa altura do campeonato! Quem garante que eu vou vier até os 80 se eu parar de fumar? Quem garante que a raça humana viverá por tanto tempo? Se pelo menos existisse um Procom para estimativas futuras, mas não! Deveriam trocar essas campanhas todas por outras bem mais alarmistas do tipo: “salve-se quem puder! Viva hoje o que quer viver nos próximos 50 anos, pois talvez eles não cheguem”.

Talvez sejamos a última geração. A tal geração das “Duas Torres” previstas por Nostradamus. Lembra que todo mundo achou que o mundo ia acabar na virada do milênio? Talvez o mundo não acabe; nunca acreditei em videntes mesmo. Mas e se acabar?

Odeio essa postura otimista da humanidade. Deveríamos estar preparados para o pior. Quem garante que a tal onda gigante não esteja se formando agora, nesse minuto? Hein? Quem? Ninguém! E é por isso que eu me pergunto o que você está fazendo vestida ainda? Temos pouco tempo, se a tsunami não acontecer pelo menos teremos gozado a vida. Anda, vamos, agora mesmo entreter nossos corpos, como se não houvesse amanhã.  

Read Full Post »

OS NOVOS RICOS

17921.jpg

Ray Winkler é um ladrão fracassado que resolve realizar um assalto não muito convencional. Ele aluga um galpão ao lado de um banco para cavar um túnel até os cofres. Para não levantar suspeitas ele coloca a esposa Frenchy para vender biscoitos enquanto ele e seus comparsas trabalham na parte dos fundos. No final a escavação termina fracassada e a venda de biscoitos, um sucesso.

Essa história pode ser vista no filme “Os Trapaceiros” (Small Time Crooks – 2000) do cineasta Wood Allen. Na segunda parte da trama, depois que o casal alcança enorme status social, a esposa de Winkler, Frenchy (interpretada por Tracey Ullman), mostra-se um verdadeiro desastre quando tenta ser refinada e culta. Ela decide então pedir conselhos para um playboy interesseiro chamado David. No final David dá um golpe e rouba toda fortuna do casal.

É engraçado, mas eu não conseguia parar de pensar nessa história quando William Boner anunciou hoje na escalada do Jornal Nacional que o Brasil, pela primeira vez na história deste país, tinha dinheiro de sobra para pagar a dívida externa.

À parte alguns lunáticos que teimam em dizer o contrário, o Brasil nunca esteve numa agitação econômica tão grande. É possível ver essa pujança em uma simples caminhada pela Avenida Paulista. Nunca na história recente (leia-se, período em que passei a acompanhar o noticiário)existiram tantos comércios, se ganhou tão bem e se empregou tanto. Nunca esse meu país, outrora tão pobre, foi tão rico!

No entanto esse mar de dinheiro não reflete nem um pouco no caráter da população. Os investimentos em educação continuam baixos, os brasileiros mais pobres ainda não vão à escola e as Universidades Públicas permanecem como refúgio das elites. Enquanto a grana rola solta o brasileiro médio continua mesquinho, arrogante, preconceituoso, malandro. É como se Ray Winkler do filme “Os Trapaceiros” enriquecesse subitamente. Temos dinheiro, mas não temos requinte. Somos exatamente como o personagem de Allen: malandros irresistíveis.

Enquanto nossa posição no quadro mundial não pára de crescer, nossa sala de estar continua má decorada, brega e totalmente kitsch. Será que não está na hora de nos tornarmos culto o bastante para não pedirmos conselhos a um charlatão?

Read Full Post »

O MEDO E A FEBRE AMARELA

Quando morei em Cuiabá um amigo me convidou para jantar em sua casa junto com sua família. Ele era jornalista como eu, seu pai, um ex-sargento do exército aposentado. Seria um desses encontros surreais e improváveis caso voltássemos 30 anos no tempo; um sargento em plena época da ditadura recebendo um colega jornalista de seu filho também jornalista. No entanto ele nos recebeu bem. Conversamos um bocado, bebemos cerveja e ele contou algumas das operações de seu batalhão: “Antigamente tivemos que desmatar uma área enorme ao norte do Estado. Aquilo ali seria usado para construir cidades e dar terras ao povo do Sul; eles tinham recebido da justiça esse direito após suas fazendas invadirem terras indígenas e serem desapropriados pelo governo”. O mais incrível no seu relato foram os detalhes da operação: “Tínhamos tratores enormes, eles varriam toda floresta e abriam clareiras gigantes na mata. Éramos uma centena de homens, não havia cidades próximas, o calor era infernal, o trabalho pesado. Mas acho que o pior de tudo eram os mosquitos. Os malditos mosquitos. Naquela época a Febre Amarela e a Malária eram um problema. Todos os homens pegaram, todos sem exceção. Diariamente assistíamos centenas deles serem arrastados. Era cena de guerra, coisa de filme mesmo. Nunca vou esquecer um grande amigo que morreu, ele sentia frio, pedia pra cobri-lo, nunca tinha visto isso, um homem suar num calor de 40 graus na mata e pedir pra cobri-lo porque sentia frio. Ele me olhava com os olhos amarelos, cara abatida, pele pálida. Eu fui o único que não pegou a maldita doença. Os médicos disseram que eu tinha uma característica rara no organismo. Mas só de ver todo meu batalhão quase inteiro morrer por causa de um mosquitinho, descobri o sentido da palavra: medo.”

Algum tempo depois, de volta a São Paulo, passo em frente ao Instituto Pasteur na Avenida Paulista. Uma fila enorme de pessoas espera para tomar a vacina contra a Febre Amarela. Alguns estão assustados: já morreram cinco pessoas, dizem que é uma epidemia, dizem que é bom se vacinar, vou tomar logo duas, aliás, três, melhor prevenir do que remediar, além do mais, a vacina é de graça mesmo.

De longe fico olhando aquele monte de gente perdendo horas naquela fila ridícula. Penso naquele sargento, pai do meu amigo. Penso em como ele e seu batalhão enfrentavam a mata no Norte de Mato Grosso em uma época sem imprensa, sem liberdade, sem transparência. Hoje, mais de 30 anos depois, o alarde da nossa mídia se materializa ali, em uma fila gigante no coração financeiro de uma megalópole como São Paulo. Um lugar onde certamente o mosquito morreria de enfisema pulmonar antes de conseguir atravessar a marginal Pinheiros. O que eles estão pensando? Será que isso tudo é… medo?

A Febre Amarela é um antibiótico da natureza muito fraco pro tipo de Câncer que a gente é.

Read Full Post »

UMA CAUSA SEM CALÇAS

Nada me irrita mais do que um comunista brasileiro. Durante muito tempo na faculdade freqüentei algumas cavernas, porões e sedes de partidos políticos onde essa quase extinta espécime se encontra. Geralmente são grupos desordeiros, sem perspectiva de vida, que esperam por uma grande revolução para depois tomar o poder e então fazer justiça com as próprias mãos.

Uma das experiências que tive nessa época foi quando tinha 19 anos e fui até a sede da Juventude Socialista. Estava pronto para me alistar nos quadros revolucionários e dar a vida pela causa; tinha justiça social em minhas veias e ódio ao capital no coração. Um jovem barbudinho me recebeu com a Folha de S. Paulo embaixo dos braços e um sanduíche de mortadela nas mãos. Ele folheava o jornal enquanto comia e conversava: “Então você quer se tornar socialista, hum sei. Nós temos alguns planos revolucionários em andamento, esta noite a gente vai sair em grupo pelas ruas pichando coisas contra a Globo. Você já viu aquela ‘Jô soares dá o cu e cheira’? pois é cara, fomos nós que criamos, não é demais?”. Foi então que o barbudinho passou por uma foto da Helen Roche no jornal: “Mano, olha isso, essa mina é muito gostosa, ela tem a bucetinha loira, eu vi na Playboy, você já viu, hein, hein, já viu?”. Ele falava e me cutucava como cotovelo.

Foi então que eu parei com essa história de comunismo e revolução. Isso nunca vai dar certo em um país onde lideres comunistas se reúnem para discutir a bucetinha loira da Helen Roche. Além do mais, tem o carnaval, o churrascão do Zé, o bar do Juca, a casa da Joana. Revolução pra que meu amigo? Ninguém quer se matar no Brasil, não.

O que o Brasil precisa é de outro tipo de revolução. Uma mais profunda, mais dolorida e bem mais complicada do que a feita por um movimento armado de causas comunistas. O Brasil precisava de uma insurreição de costumes. Somos um país que necessita ser passado a limpo, saber o que é certo, o que é errado, conhecer limites. As pessoas não enxergam a sociedade como ela deveria ser, crêem ser mais fácil derrubar o tabuleiro do que jogar o jogo. E o capitalismo é o jogo do momento, não adianta meia dúzia de tantãs quererem vir jogar damas enquanto o mundo todo aposta no xadrez.

É por isso que me incomoda ver um bando de jovens lutar por idéias impraticáveis, ao mesmo tempo que ninguém se levanta pelas praticáveis. É como um monte de cegos de nascença comentando uma pintura renascentista: “Olha, veja esses detalhes rococós e curvilíneas pós modernisticas”. Eles não têm a menor noção do que falam. “O capitalismo precisa de miseráveis”. Rá, isso é uma invenção de algum lunático uspiniano que não sabe o que fala. Pô, está na cara que o desemprego é algo nocivo ao mercado, qualquer idiota pode ver isso. Quanto mais pobres no mundo menos se compra, menos o dinheiro circula, menos lucro se faz. Meu Deus, isso é lógica! Agora, se os pobres trabalham, mas são pobres porque ganham pouco dinheiro, bom, esse é um problema de algumas jogadas e não do jogo em si. E são essas pequenas jogadas que deveríamos atentar e lutar.

Existe lugar para todos no capitalismo. O problema é que assim como o comunismo ele é o sistema perfeito baseado em gente imperfeita. Cobiça, ganância, desrespeito, malandragem, todas qualidades humanas que corroeram o comunismo soviético corroem também o capitalismo americano. Se a Nike manda fazer seus produtos na China já que lá a mão de obra é mais barata, a culpa é tanto da empresa quando da merda do governo Chinês que permite esse tipo de coisa. A força de combate ao capitalismo deveria ser usada contra o mal-capitalismo e posturas éticas de corporações sacanas. Mas não, ao contrário disso os comunistas filhinhos-de-papai exaltam Mao tse-tung e usam tênis da Nike.

Como brasileiro acho que temos problemas mais urgentes para resolver do que tentar mudar o jogo. A ética, por exemplo. A nossa ética é uma das coisas das mais pavorosas que existem. Somos um povo racista, mesquinho, desonesto, embusteiro e com interesses individuais acima dos coletivos. Todas as nossas esferas de poder estão corrompidas. Desmatamos, poluímos, matamos e colocamos a culpa nos americanos. Fazemos doações para pobres para receber isenção de imposto. Trocamos votos por dentadura. Não conhecemos as capitais dos Estados. Não lembramos em quem votamos nas eleições passadas. Compramos produtos piratas. Assistimos Big Brother, futebol e novela. Temos vinte filhos sem condição de criar. Enfim, somos um povo desvairado. O comunismo não sobreviveria dois dias sob nossa tutela.

Sugiro uma revolução de consciência. Uma revolta nos costumes. Uma guerra de valores. Quem sabe assim um dia possamos formar uma nação de verdade e então, sem mortos nem feridos, a gente propõe outro jogo.

Damas à la Brasiliana… que tal hein?

 Eis aqui um link interessante para entender a expansão do capitalismo e da democracia.

Read Full Post »

QUEREMOS HERÓIS!!!

Um dos grandes problemas dos brasileiros é não ter um herói de verdade. Falta aquela imagem para nos espelharmos, poder apontar e dizer: “pó, quero ser igual esse cara”. Tudo bem que já tentamos algumas vezes. O tal do Tiradentes, por exemplo. É certo que foi um herói dos mais fakes, com aquela pose, vestimenta simples e barbona. Mas beleza, já é alguma coisa. O problema é que ele ficou velho demais; o brasileiro já tem memória curta, pra se lembrar dos feitos do barbudinho há mais de cem anos, ah parceiro, ai fica difícil.

Desafio alguém a fazer uma listinha com alguns nomes de brasileiros que deram a vida por uma causa. Uma listinha pequena, três pessoas. Três brasileiros que podemos chamar de heróis da nação. Vale lembrar que Ayrton Senna, Pelé e Ronaldinho não valem. Eles tiveram suas recompensas na Terra, comeram Galisteu, Xuxa, Cicarelli, nadaram na grana e, além de serem bons no que faziam, nada mais fizeram (no máximo uma ong ou outra pra abaterem impostos). Quero alguém que tenha mudado os rumos da humanidade, alguém que tenha feito a diferença, inventado algo grande, proposto uma nova idéia, sacudido os pilares da sociedade. O que? Santos Dumont? Humm, vá lá, pode ser. Uma pena que nosso inventor do avião ainda sofra com o benefício da dúvida devido aos irmãos Wrights. 

Mas os heróis são mais que meros inventores de avião. Os heróis são feitos para marcar o território moral de um povo, servem para levantar a nação, inspirar grandes feitos. Vejamos a França, por exemplo. Eles vão de Napoleão a Sartre passando por uma verdadeira liga da justiça à época da revolução francesa. Imagina como ficam os brios de um francês que nasce cercado por estátuas e histórias de conterrâneos que mudaram o mundo. Não é a toa que eles são metidos a beça: “Aller France, aller!”

Outros que são bem metidos são os argentinos. A gente costuma fazer piada sobre o topete dos hermanos, principalmente quando o assunto é futebol. Quem não conhece a famosa: “Maradona es el mejor del mundo e um de los mejores de Argentina”. Mas mesmo eles possuem heróis muito mais significativos que os nossos. Maradona, por exemplo, que costumamos categorizar como cheirador portenho metido a besta, é amado muito mais lá do que o Pelé jamais poderia ser no Brasil. Não cabe aqui discutir a velha pendenga de quem é melhor ou pior, o fato é que Maradona é herói e Pele não; ou você já viu alguém com uma camisa do seu Edson estampada por ai?

Fora isso, os argentinos podem se orgulhar do rosto mais estampado nas camisetas da América do Sul. Seu Ernesto Guevara, o famoso Che, o herói dos heróis, que era, para nosso desespero, argentino.

É engraçado, mas ser herói não é apenas ser bom em alguma coisa. Tem que ter aquela pecha de heróis. Não basta querer, tem que poder, entende? Um filme que retrata bem essa questão é “Circulo de Fogo”. Dizem que os feitos de Vassili, o soldado retratado no filme por Jude Law, inspirou os soldados e ajudou os soviéticos a derrotar os nazistas. Se é verdade ou não, não interessa. O fato é que se eu fosse russo poderia me orgulhar por alguns momentos durante uma breve aula de história: “Que demais esse Vassili”, sairia comentando com meus colegas, pronto para dar a vida pelo meu país caso fosse necessário.

É por essas e outras que a construção de heróis deveria fazer parte do planejamento nacional de qualquer país. Deveria existir algum ministério para identificar e perpetuar feitos nobres. Algo como: “Ministério dos Feitos Heróicos Nacionais”. Tudo bem que a pasta seria disputada por sujeitos sem a menor postura ética ou heróica, tudo bem que lobistas iriam nomear anti-heróis como heróis, tudo bem que no fundo o Ministério seria mais usado como cabide de empregos, tudo bem que as verbas… é, bom, pensando bem é melhor esquece essa história de Ministério. Mas o fato é que deveríamos aprender com os americanos. Eles são mestres em construir heróis que não existem. Superman, Homem Aranha, Rambo, Capitão América, todos são criações que fazem qualquer americano gordo flácido com colesterol alto se sentir o fodão na frente da TV. “yeh man America rocks! Fuck the rest”. A gente precisa disso, de um índio que voa, de um lampião com raio lasers, de um baiano mutante que corre na velocidade da luz, sei lá, qualquer coisa.

É por isso que eu acredito que deveríamos começar a investir na criação de heróis o mais rápido possível. Tenho certeza que algum populista vai aproveitar para dizer que herói é o povo, que trabalha e blábláblá, mas eu to falando de herói de verdade, daqueles que morrer por uma causa ou que soltam laser pelos olhos. Afinal, o Zé da esquina pode ser um verdadeiro herói. Pode acordar cedo, sustentar 15 filhos, ser honesto, trabalhador, mas meu amigo! Isso não adianta nada. Um bom herói precisa de uma boa assessoria de imprensa.

Read Full Post »

« Newer Posts - Older Posts »