Carne no fogo, cerveja na geladeira, música brasileira no MP3 e jogo da seleção na TV. O sujeito pega um pedaço de linguiça da bandeja de madeira sem reparar que o corte feito pelo churrasqueiro não foi devidamente finalizado – fica aquele famoso fiozinho ligando a outra ponta. Durante o trajeto bandeja boca a linguiça é arrastada, se desprende, faz uma curva no ar e vai parar no chão. Antes que o cachorro tenha sequer tempo de pensar, nosso amigo se abaixa, pega a carne e enfia na boca. Ele ainda lambe a ponta dos dedos… Esse é o Julião, talvez o maior pesadelo do Dr. Bactéria.
Durante alguns meses o Fantástico entrou na casa de milhões de brasileiros para alertar sobre os riscos dos nossos inimigos invisiveis. Limpar bem as mãos, não andar descalço, jogar produtos químicos na sua sala de jantar, desifetar seu banheiro com ácido. Essa era a filosofia do tal doutor: limpeza, limpeza, limpeza!
Não sou médico, nem sou “entendido” do assunto, mas o pouco que estudei me faz ter bem claro na cabeça que não posso tratar os micro-organismos como inimigos. E mesmo que tivesse faltado a todas as aulas de biologia a simples observação do dia a dia me daria a certeza de que esse tal de doutor bactéria não passa de uma ameba. Sim, porque as pessoas mais saudáveis que conheci na vida não são exatamente o tipo que limpa as mãos de cinco em cinco minutos com álcool em gel, são justamente o contrário.
Uma vez fui num churrasco no interior de São Paulo. Alí acho que conheci a criança mais saudável de todas. Era um guri que corria pelado, tomava água da piscina, sujava o pé de barro e fazia xixi em tudo que era canto do jardim. Convivia bem com as tais bactérias, tinha energia e vitalidade. Engraçado que no mesmo churrasco um outro garoto ficava sob a guarda da mãe que observava a tudo com certa indignação.
Aqui em Mato Grosso é evidente essa teoria. Cuiabaninhos “pé rachado” que nadam em rios, sobem em árvores, mexem na terra. Eles são o que há de mais moderno em termos de medicina preventiva. Enquanto isso os garotos de apartamento que vivem com cuidados excessivos, toda hora estão doentes. E pior, esse comportamento “preventivo” da cartilha Dr. Bactéria, prejudica o equilibrio do próprio meio ambiente. Usar detergente em vez de sabão em barra porque o seu prato fica menos gorduroso é ruim pra saúde dos rios, dos cuiabaninhos e para a sua própria saúde. A mortalidade infantil é maior entre crianças pobres não porque elas recebem menos cuidados que as crianças de carpete, mas porque elas ficam mais expostas aos danos ambientais.
O doutor Bactéria é só mais uma dessas personalidades típicas da decadente babilônia. É aquele cientista de uma nota só que passa a vida lendo os mesmos livros. Claro, ele seria um ser humano inofensivo e talvez bastante agradável caso não fosse potencializado pela mídia. Nesse caso aquela amebinha inofensiva cresce e infecta todo o grande corpo social. Aí meu amigo, como não inventaram antibióticos midiáticos realmente eficazes, só mesmo o tempo pra curar.
É ou não é um terrorista?
Ah, só pra constar, Julião, o sujeito do começo do texto, está vivo e bem. De vez em quando ele tem algumas desinterias, mas nada que seu organismo não consiga reverter.
Hahahaha.. to rindo do Julio e da amebinha.
Admito que sou muito feliz por ter vivido uma infancia brincando no quintal e fazendo de um pé de limoeiro a minha casa da arvore com o primeiro telhado verde da minha vida. Hoje fico feliz de assistir minha sobrinha colher frutas nesse mesmo quintal com os pés descalços e com um sorriso no rosto. E acredito que so experimentando o mundo é que seremos capazes de nos defendermos das ameaças que realmente podem nos causar algum dano. Eu quero muito continuar vendo a molecada se divertir roubando manga do quintal do vizinho e pulando em poças de lama deixada depois e uma chuva de verao.
ju
Certa vez li uma reportagem muito interessante sobre uma senhora, química, que se interessou por sustentabilidade depois dos 80 anos e começou a estudar sobre o assunto. Ela descobriu que os produtos de limpeza que usamos diariamente em nossas casas matam mais micro bichinhos do que deviam. Muitos deles são fundamentais para nossa própria saúde. Tem gente aí confundindo limpeza e saúde com intoxicação por produtos de limpeza. O veja multiuso é extremamente nocivo. Tem gente que acha que menino pequeno sujo é quando ele tá com o pé cheio de terra. Pois eu acho que guri sujo é aquele cheio de cremes tóxicos a pele.
ass: o júlio do texto, sujo mas muito feliz e saudável.
obs: falem mal, mas falem de mim;kkkkkkk
Um dos melhores textos sobre higiene que li nos últimos tempos. Não dá para levar a epidemiologia na base da bíblia sagrada não… essa confusão entre bactérias inimigas e amigas precisa acabar já! Corpos humanos são diferentes a depender do processo de relação com o ambiente, as pessoas e o mundo. Assim como a mente, o corpo desenvolve habilidades únicas. Chega dessa teoria do corpo como receptáculo amorfo de bactérias malvadas…. affff…